domingo, 1 de março de 2009

Às vezes te odeio por quase um segundo


-mas é claro que eu te amo... - dizia isso exalando o hálito sempre fresco, mesmo logo depois de acordar, que ela amava tanto.
- então porque vai? - perguntou quase num sussurro, quase que pra si mesma. - podia ficar, você sabe. podíamos só ficar aqui... e fingir que nada do mundo lá fora é mesmo real. mas não completou a fala com esse pensamento. ela sabia que, por mais que pudesse viver apenas daquele amor, se nutrir dele, morrer naquela cama e naqueles lençóis... ele não pensava assim.
- você sabe, eu tenho que ir.
- porque?... isso tudo é tão errado. - agora ela tentava ignorar as partículas de mar que teimosamente se equilibravam na sua bochecha, enquanto olhava pro teto, deitada ao lado dele na cama de solteiro.
- porque... porque quando se tem medo de algo e se faz mesmo assim... bem, então isso é coragem.
ele acendeu outro cigarro e foi pra janela.
ela nunca tinha realmente reparado no quanto ele parecia com um gato.
como se tivesse lido seu pensamento, ele se espreguiçou desajeitadamente, olhou pra ela e deu um dos seus sorrisos dúbios.
ela não entendia nada sobre coragem, ou sobre os motivos dele.
ela só entendia de amor.
e agora entendia também de morte.