quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Os nossos sonhos valem muito mais

se o mundo não muda em volta de você
vem comigo e vamos fazer do nosso jeito
eu sei que os dias são todos iguais
e você sabe que eu também quero muito mais
só não perde o brilho que tem esse seu olhar
que é o que me faz acreditar
que as nossas dúvidas valem muito mais
que essa certeza estéril que eles têm

então acende nosso último cigarro
e me canta uma das suas músicas
eu não vou assistir você desistir.
a nossa estrada vai dar bem longe daqui
mas eu vou com você até o mundo acabar
porque eu sei que as nossas dúvidas valem muito mais
que essa certeza estéril que todos eles têm

eu não me importo se demorar
nem tenho medo de me machucar pelo caminho
só não podemos desperdiçar
nossa coragem e o nosso sangue novo

as nossas dúvidas valem muito mais
as nossas noites valem muito mais
os nossos sonhos valem muito mais
e as nossas lágrimas têm um preço
que eles nunca vão poder pagar.

Abismo sem cores

a poesia tem dentes que mastigam minha alma
dentro do estômago da poesia vive o desejo
suaves mentiras maquiadas por rimas

no abismo sem cores
o ar tem peso e cheiro de tempo perdido
mas morrer é eterno
morrer é lento e seguro

esquecemos dias e vontades
no abismo sem cores
amor e medo do escuro são iguais
só vejo grades

ontem tive uma grande idéia
de como alcançar a liberdade
mas já me esqueci
só vejo grades.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Amor = bloqueio criativo

gosto de ficar calada, ouvindo você cantar.
teus versos que eu ja sei de cor
falando de dor, de fim
e de como nada nunca vale a pena.
tão parecidos com os meus
antes de você aparecer,
e causar esse vendaval todo nos meus planos.

(porque sim, eu tinha planos.
de continuar com meus dias tediosos e minhas mentiras sinceras
pra depois chorar sozinha no escuro do quarto,
e levantar no dia seguinte com um sorriso,
fingindo que está sempre tudo bem.
que a vida sempre é uma festa.
e que eu amo viver assim.
só que geralmente eu esqueço de contar
o que acontece quando a festa acaba.)

e agora eu sinto que tenho tanto pra aprender
e muito pra ensinar...
eu te mostro como não dá tanto medo se entregar,
e você me mostra como eu faço pra gostar
um pouquinho mais de mim.
na verdade, eu só quero ficar perto de você.
hoje, amanhã, e depois, e de depois pra sempre.
será que posso ser tão clichê assim,
e dizer que nunca, nunca, nunca na vida
senti isso antes?
uma certeza rodeada de medo,
mas não aquele medo vazio de sempre.
é só um friozinho na barriga,
daqueles que se sente
quando não se sabe o que vai acontecer,
mas que não importa o que seja,
eu sei que vai ser perfeito.

(perfeito, perfeito, perfeito.
gosto de ficar repetindo essa palavra infinitas vezes
pra me lembrar que só entendi o verdadeiro sentido dela
há muito pouco tempo.)

ainda saio por aí com o olhar perdido, parecendo uma retardada, com cara de apaixonada.
ainda canto o dia todo a música,
ainda procuro seu cheiro na minha pele depois que vou embora.
e já era pra ter passado faz tempo essa fase.
às vezes eu acho que, provavelmente, não vai passar nunca.
é muito mais fácil voltar pro mundo lá fora
sabendo que sempre te levo,
nos meus olhos, na minha boca, no meu futuro.

(e o que eu mais odeio disso tudo é não ter nada pra escrever,
além de riminhas sem qualquer qualidade literária relevante,
e os velhos clichês que sempre foram e sempre vão ser repetidos.
mas, como diz a música, "canções de amor se parecem porque
não existe outro amor".
talvez seja isso.)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Misto-Quente


trechos de Misto-Quente,
de um dos melhores autores já existentes no mundo.
Charles Bukowski.

muita gente diz que não há valor algum na literatura dele, dizem que é literatura pra jovens desajustados e drogados.
mas a simplicidade aparente do texto, essa coisa de narrar diretamente os fatos, quase que de uma forma auto biográfica (o henry chinaski, personagem principal de vários livros dele, é sabidamente um alter-ego do autor...) é um estilo, uma arquitetura própria... escrita não convencional não quer dizer falta de lirismo!
bom, esqueçam.
eu sou realmente paga-pau da contra-cultura beatnik, e mesmo que o bukowski não seja considerado oficialmente um beat (não participou do movimento, conhecia os caras mas não se envolveu, etc, etc) geralmente quem lê encontra semelhanças de estilo e sentimentos, e acaba considerando ele um beat também.
claro que ele odiava isso.
de qualquer forma, eu coloquei os trechos que me fazem perceber que não, eu não sou maluca, existem pessoas que se sentiram e que se sentem como eu,
e se até charles bukowski pode se sentir assim,
porque não eu?


_____________________________






"... o problema era que você precisava ficar escolhendo entre uma opção horrível e outra pavorosa, e independente da sua escolha, eles cortavam mais um pedaço da sua carne, até que não restasse mais nada para descarnar. por volta dos 25 anos, a maioria das pessoas estava liquidada. uma maldita nação inteira de desgraçados dirigindo carros, comendo, tendo bebês, fazendo todas as coisas da pior maneira possível, como votar em candidatos a presidência que os fizessem lembrar de si mesmos.
eu não tinha interesses. eu não tinha interesse por nada. nao fazia a mínima idéia de como ia escapar. os outros, ao menos, tinham algum gosto pela vida. pareciam entender algo que me era inacessível. talvez eu fosse retardado. era possível. frequentemente me sentia inferior. queria apenas encontrar um jeito de me afastar de todo mundo. mas não havia lugar pra ir. suicídio? jesus cristo, apenas mais trabalho. sentia que o ideal era poder dormir por uns cinco anos, mas isso eles não permitiriam..."


"... e minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. a única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. a bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir pra sempre atordoado e inútil. todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. e nada tinha o menos interesse, nada. as pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. e eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. deus, todos eles tinham cus e orgãos sexuais e bocas e sovacos. cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes como esterco de cavalo. as garotas pareciam legais a certa distãncia, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, voce vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora. eu certamente nunca conseguiria ser feliz, me casar, nunca teria filhos. inferno, eu nem mesmo conseguia um emprego como lavador de pratos. talvez eu pudesse me tornar ladrão de banco. alguma coisa bem fodida. alguma coisa flamejante, fogosa. só se vive uma vez. por que ser limpador de vidraças? acendi um cigarro e segui descendo a ladeira. será que eu era a única pessoa que perdia tempo pensando nesse futuro sem perspectivas?..."


"... a vida das pessoas sãs, dos homens comuns, era uma estupidez pior que a morte. parecia não haver alternativa possível. a educação também parecia uma armadilha. a pouca educação que eu tinha me permitido havia me tornado ainda mais desconfiado. o que eram médicos, advogados, cientistas? apenas homens que tinham permitido que sua liberdade de pensamento e a capacidade de agir como indivíduos lhes fosse retirada.
voltei pro meu barracão e enchi a cara. "





"Que tempos penosos foram aqueles anos - ter o desejo e a necessidade de viver, mas não a habilidade."

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Fragmentos abstratos - Parte I.

através dos seus olhos que sempre hesitam,
pude enxergar novos instantes.
preciso, quero, tenho que respirar você;
absorver cada gota de suor como se fosse vital e necessário.
e quem disse que não é?

________________________




abismos, abismos, abismos.
alma e corpo entram em conflito.
já não sei quem sou, o que quero.
sinto só necessidades básicas e primais.
o que fazer com tanto desejo e tanta preguiça?

_______________________



aí, chega um leonino cabeça dura, me tira do torpor e supre todas as minhas necessidades físicas/mentais/emocionais.

mas, e depois?

_______________________



tentando enxergar algo mais.
planos são só planos.

______________________



o mundo precisa de muito mais sexo e rock'n'roll.
e eu só preciso dele.


e depois?

_____________


postagem inútil.
desculpa aos poucos que lêem essa porra.

Fragmentos abstratos - Parte II.

meus olhos cegos preferem o escuro
o escuro da noite, o lado negro da lua
meu pulmão negro de fumaça
prefere sufocar no vácuo
minha mente que derrete ao sol
prefere pensar sobre o nada
a imensidão, o universo, negro, nada
ecos de tudo que poderia ter sido
meu futuro vira um passado perdido
antes mesmo de começar
minha mente que derrete ao sol
prefere simplesmente nem pensar
o passado perdido que não virará
o futuro
prefiro não pensar.


___________________________




a consciência grita dentro dela
pedindo de volta o controle que perdeu
ela não precisa ouvir
deita entre as ondas coloridas
geme entre braços desconhecidos
desmaia e sonha com algo que nunca mais vai lembrar
acorda e o novo dia não tem nada de novo
a dor de cabeça é um alívio
uma prova definitiva de que ainda é capaz de sentir algo
mesmo que seja dor
acostumada a ter que fingir
se atira nas pontas de lança que encontra pelo caminho
é uma suicida diária
anda sorrindo pela corda bamba
procura sentir
algo que seja
pouco que seja
mesmo que seja dor.

Fragmentos abstratos - Parte III.

trecho um__


Não vamos sobreviver.
Ao menos que fiquemos loucos.


trecho dois___


TEMPO

presa numa gaiola espaçosa.
gigantesca gaiola, de grades invisíveis.
as paredes de vidro não impedem de ver,
mas impedem de sentir.
chega você, de repente, quebrando minhas paredes,
me fazendo tremer de frio,
medo, amor e gozo.
e eu percebo que nunca tinha me sentido viva de verdade antes.
agora posso sentir o vento,
o seu toque,
as verdades do mundo. ver as coisas bonitas,
ver as coisas desesperadoras.
andar ao teu lado e ser completamente sua.
mas eu sou sempre minha pior inimiga.
e por mais que você tenha me arrancado da gaiola de vidro,
não consigo escapar da prisão em que todos esses meus "sonhos" me puseram.
porque não quero desistir.
mas também não sei o que fazer.
grito por ajuda.
mas dessa vez nem sua voz que eu tanto amo pode me guiar.
sozinha.
descubro que fechar os olhos e querer que aconteça nunca é suficiente.


trecho três___



cada momento
e cada possibilidade
cada partícula de cor
cada verdade dentro de mim
cada gotinha de luz
cada pedaçinho do mundo
eu queria poder te dar tudo o que tenho vontade de ir ver
mas só tenho meu mundo vazio
meu gênio difícil e minha mania de sonhar alto demais.


trecho quatro___


fingir que não vê a verdade é ruim.
viver lá fora é bem pior.


trecho cinco___


quero dormir.
life in dreams is so MUCH EASY.
viver é fácil, de olhos fechados.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Desejo é Arte

Do Desejo (trecho)

I

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.


*Hilda Hilst*


______________________




quando acendo um cigarro, e a fumaça forma desenhos no ar,
essa é minha arte.
quando minhas unhas enterradas nas tuas costas
fabricam linhas em carne viva,
pura arte.
minhas palavras formando sorrisos em teu rosto,
nossas pegadas causando micro desastres naturais na areia,
o suor marcando o lençol,
arte.
minhas pequenas obras de arte.
procurei tanto tempo em mim
um vestígio de dom,
e agora você me mostra que meu desejo é a única arte de que preciso.
me permite usar teu corpo como tela,
fluidos como tinta,
e eu faço de nós dois a Arte mais linda que o mundo já viu.