sábado, 12 de janeiro de 2008

Da simbiose e algumas outras coisas

você tem cheiro das coisas que não conheço e que tanto quero ver. você tem gosto de futuro, de mar, de bala de anis. seu sorriso me causa rachaduras internas que jamais poderão ser remendadas. efeito devastador eterno. quando você partir, quebrarei em mil caquinhos, de cada caquinho vai nascer um passarinho, e eles vão propagar meu sofrimento pelo eco do infinito. mas antes disso, vais me fazer feliz.
sua cor é de dia de sol forte, cor de quando o chocolate derrete nos dedos e a gente lambe sem se importar de se sujar. você tem esse olhar de cachorrinho perdido. mas sabe fazer olhar de menino vadio quando quer que eu me sinta mulher. sua mão passearia pelo meu corpo como se fosse uma jóia, ou uma arca cheia de coisas preciosas, se você desse valor a esse tipo de coisa sem sentido. mas não dá, por isso és perfeito também. e por isso me pega como uma criança e seu brinquedo favorito. e por isso me prova como se prova algum novo sabor de sorvete, me bebe como se bebe aquela última gotinha de Coca do fim, me mastiga como aquele monstro do filme mastigava a mocinha. tem esse ar de menino sem teto, como quem não tem pra onde ir. pois eu te ofereço aqui dentro do meu seio, sua morada. e aqui na minha língua, sua água. e no meu corpo, alimento. às vezes. outras vezes, eu que te pedirei abrigo sobre a rede que me teces com tuas palavras doces, beberei suas lágrimas, comerei teus cabelos. e nos dias de cansaço quando mal quisermos falar de tanto amor, eu só peço pra deitar do teu lado e decorar cada traço dessa figura desenhada no seu braço. quer viver assim? viver a dois, nessa simbiose canibal; te dou minha carne pra se alimentar e tomo teu espírito como meu elixir da vida, da cura, da benção, de tudo, de tudo. pulsemos juntos.
vai chegar o dia que espalhará armadilhas em volta da tua casa, para recolher meus pássaros-caquinhos que não te deixam dormir. sentirá saudade do teu alimento. a melancolia te vencerá. e quando isso acontecer, se afoga no mar... e vem viver nossa eternidade nas estrelas.

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