sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Das promessas e outras coisas estranhas

ela acordou com uma sensação estranha.
olhou pro lado, tudo escuro.
tateou no escuro esperando sentir o quente daquelas costas,
mas ele não estava ali.
levantou com um susto, cabelos ainda molhados e escorridos do banho anterior,
e olhou em volta.
seu coração diminuiu quinze compassos aproximadamente, quando ela avistou um pontinho laranja na escuridão.
ah, ali estava ele. sentado no chão, cigarro aceso, olhando ela dormir.
tornou a deitar, agora calma, mas sem sono novamente.
mas ele sabe o que ela quer, ele sempre sabe.
apaga o pontinho laranja no cinzeiro cheio, pega o violão e canta baixinho até ela dormir de novo.
ela diz que isso a faz sonhar com ele.
ele diz brincando que ela ronca.
ela diz séria que é mentira.
de manhã cedo, acordarão enroscados nas pernas um do outro. ela com a mão no coração dele, pra sentir as batidas, e ele com a mão emaranhada nos cachos dela, pra sentir o cheiro bom que desprende dali, e porque fez carinho nela até os dois dormirem.
de manhã cedo, acordarão com cara amassada de sono, daquele jeito terrível que o ser humano costuma acordar.
mas, por incrível que pareça, ele vai achá-la mais linda do que nunca,
e ela vai adorar o formato estranho que os cabelos dele despenteados adquirirem.
provavelmente vão se abraçar e dormir mais um pouco,
já que têm a eternidade do dia pra passarem juntos.
já que têm a eternidade do universo pra passarem juntos.
é, o amor tem dessas coisas estranhas.



o amor é uma coisa bem estranha.




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entre a dor e o amor,
existe um abismo
quase seguro.


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cínicas emoções me corroem.

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de tanto que as fiz e não cumpri,
nem eu mesma creio mais nas minhas promessas.
palavras jogadas em vão, ao vento,
deixam no céu da boca o gosto acre da impossibilidade.
acredito no nada que rodeia minha alma escura,
acredito na fome que sinto no meu corpo,
acredito nos pequenos prazeres imediatos e doloridos.
eis tudo que posso oferecer a mim mesma.


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"... não há palavras para explicar o que não há."

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