domingo, 27 de janeiro de 2008

Muito pra dizer, nada pra dizer - I.

reflexões abstratas e egoístas (?) sobre quatro dias que podiam ter sido minha vida toda.



já não respiro fora de ti.

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fico com medo. mas o coração bate.
o amor inexplicável faz o coração bater mais depressa.
a garantia única é que eu nasci. tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade.


*clarice lispector*




o processo

- que é que eu faço? não estou aguentando viver. a vida é tão curta, e eu não estou aguentando viver.
- não sei. eu sinto o mesmo. , mas há coisas, há muitas coisas. há um ponto em que o desespero é uma luz, e um amor.
- e depois?
- depois vem a natureza.
- você está chamando a morte de natureza?
- não. estou chamando a natureza de natureza.
- será que todas as vidas foram isso?
- acho que sim.


*clarice lispector*




saudade

saudade é um pouco como fome. só passa quando se come a presença. mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

*clarice lispector*



uma revolta:

quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.



*Clarice Lispector*


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quando sinto as palavras querendo sair,
querendo sair, e é uma explosão tão grande
que em próprias palavras não posso exprimir,
prefiro deixar dizerem por mim.
eles que sabem, eles que foram escritores mesmo.
não sei o que faria sem eles, meus livros, meus melhores amigos.
porque parece que alguns escritores leram minha alma.
isso é coisa de doido, eu sei.
mas é um dos sentimentos mais reconfortantes do mundo,
esse de você se sentir incapaz de expressar algo,
e descobrir que alguém já sentiu e já expressou.
lindo, lindo.


e não importa o quanto eu escreva pra você,
o sentimento nunca se cansa de ser escrito,
o sentimento nunca se cansa.
as palavras ecoam, eternas, infinitas,
e eu estou presa, incapacitada
de fazer algo além de me angustiar,
me desesperar e querer exprimir isso tudo,
e então as palavras escorrem pelos meus olhos,
meus poros, meus dedos.
e eu não sou nada, eu sou sua,
eu, enfeitiçada.
amaldiçoada, completa, preenchida,
e tudo é tão imperfeito e dolorido que é bom.
paradoxal e dolorido.
colorido.


um cemitério, de madrugada.
por ele andam três mortos vivos.
e assim se descobre o que acontece
quando dois auto-destrutivos
se amam e se querem
mais do que se pode suportar
com esse corpo, essa vida, essa dimensão.
como disseram, "estrelas cadentes".
e eu digo, de novo, não me importo,
não me importo, nãomeimportomesmo.



eu respiro seu desejo.
daqui a pouco o dia vai querer raiar.
e então, faremos o quê?
eu, como sempre, vou pagar pra ver.



acho que pouca gente descobre, realmente, o que é o amor. não tem nada haver com tudo que lemos, nem com as músicas que ouvimos apaixonados, nem com coraçãozinhos vermelhos flechados.
amor tem sim haver é com morte.
drummond estava errado, amor não é primo da morte, amor é irmão siamês da morte. mas quem sou eu pra dizer? eu só sei sentir. e sinto, com todos os orgãos, pele, lágrimas, alma, tudo. sinto que amar, amar de verdade, amar loucamente, é tão insuportável e intenso, que não resta outra opção ao corpo do que morrer. morrer bem doído e delicioso, morrer dentro do outro, não ser nada pra ser tudo no outro. simplesmente porque o coitado do corpo não foi feito pra suportar tal sentimento, não foi. e depois dizem que deus existe. se ele existe, é extremamente egoísta, porque nos fez com corpos e mentes incapazes de amar. mas eu tento, tento, me queimo toda, morro todo dia. e vale a pena, claro que vale. morrer de amor. não, não é um lirismo imbecil, quem me dera que fosse. eu estou falando realmente de morte.




morrer de amor.
não, isso não é lindo.
mas é a verdade.
minha deliciosa e deprimente verdade.

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