sexta-feira, 24 de julho de 2009

Que é que eu sei de amor?

eu sei que é unanimidade hoje em dia dizer: eu tomo meu café preto e amargo, puro e sem açúcar.
unanimidade entre pretensos artistas neuróticos. ou só neuróticos, porque que porra é ser artista, eu me pergunto.
mas sabe. a vida de preta e amarga já tem demais.
- papo de bar.
eu sei. mas assim mesmo: meu café é entupido de açúcar. fica depois aquela crosta marrom no fundo da caneca, você passa o dedo e lambe.
mas só faço isso hoje, ontem o açúcar que eu lambia vinha da sua pele.
- não começa com isso.
mas é que eu não consigo.
te liguei à noite, sei que isso me era proibido nas regras não-escritas porém supra-conhecidas do orgulho, mas olha:
que é que eu sei de amor?
é tudo tão novo e tão velho.
não sei nada.
e olha que eu leio pra caralho, sabe?
- eu sei.
tantas vezes deixei você esperando, enquanto terminava só mais um capítulo.
será que foi isso?
mas eu trocaria, sabe.
devolvo meu bukowski em troca da sua língua na minha de novo: pode?
- claro que não pode.
assim não vale, não funciona.
e pra que porra alguém vai querer um bukowski?
mas olha que merda de injustiça essa:
quer dizer que não se pode arrepender e consertar.
- como você conserta algo se não sabe onde quebrou?
tudo é uma questão de manter
(a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo)
opa. isso era outra coisa.
oficialmente vou parar com a maconha.
e oficialmente vou parar de você.
é um vício fodido esse, sabe.
quase uma auto-mutilação: arrancar você de mim.
- peraí, isso é clichê.
cansei de arranjar culpados em tudo,
a culpa é do mordomo,
me assassinaram com o castiçal na sala de música
ou eu assassinei?
fomos assassinados, meu bem,
e algo me diz que mancha de sangue no tapete é foda de tirar.
mas eu ainda espero, sabe?
- eu sei.
e olha:
que é que eu sei de amor?
é tudo tão novo e tão velho.
quero só fingir que não há sangue nem café amargo pelo mundo.
só mais um capítulo ou dois de nós. pode?
olha só pra mim.
mas olha só que merda.
tudo isso é por você, sabe?
sabe nada.
você não sabe é de porra nenhuma.

Um comentário:

Suzana Castro disse...

Eu adorei esse texto. Tem tudo a ver com o que eu passei.
Eu li e pensei " Nossa, se eu fosse escrever algo usaria as mesmas palavras."

Meus sinceros parabens! (: