segunda-feira, 15 de março de 2010

Os vagabundos iluminados

Mas eu tinha minhas próprias idéias e elas não tinham nada a ver com a parte "lunática" de tudo aquilo. Eu queria comprar um equipamento completo com tudo o que é preciso para dormir, abrigar-se, comer, cozinhar, na verdade uma cozinha e um quarto completos bem nas minhas costas, e partir para algum lugar e encontrar a solidão perfeita e olhar o perfeito vazio da minha mente e ser completamente neutro em relação a qualquer e toda idéia. Pretendo rezar, também, como minha única atividade, rezar por todas as criaturas vivas; percebi que essa era a única atividade decente que sobrara no mundo. Estar no leito de um rio em algum lugar, ou no deserto, ou nas montanhas, ou em alguma cabana no México, ou em um barraco em Adirondack, e descansar e ser gentil, e não fazer nada além disso, praticar o que os chineses chamam de "não fazer nada". Eu não queria ter nada a ver mesmo, com as idéias de Japhy a respeito da sociedade (achei que seria melhor simplesmente evitá-las todas, contorná-las) ou com qualquer uma das idéias de Alvah a respeito de aproveitar o máximo possível da vida por causa de uma doce tristeza e porque algum dia a gente vai mesmo morrer.


Trecho do livro: Os Vagabundo Iluminados (The Dharma Bums), Jack Kerouac. Pág. 110, Cap. 14. Tradução: Ana Ban. (Coleção L&PM Pocket).

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