quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Mundo sujo e perfeito


parece a única coisa certa a fazer.
fechar os olhos e esperar você dizer todas aquelas coisas que eu tenho medo de ouvir...
porque será que seu jeito suave de falar revela todas as minhas fraquezas instantaneamente?
e então mais um beijo...
e todos têm gosto de inferno.
esse meu inferno quente e doce em que eu escolhi morar desde que perdi meus olhos bem no fundo do castanho sujo dos seus.
e eu pedi por isso cada segundo da minha vida.
e é o intenso redemoinho das suas entranhas corroídas de desejo, dúvida e medo que eu escolho como abrigo.
e o único ar que pretendo respirar de agora em diante é esse ar rançoso e pesado do nosso quarto; cheio de fumaça, incenso, sexo, angústia, ansiedade, música e eternidade.
me sinto inundada pela poesia do teu corpo cheio de ângulos perfeitos. perfeitamente desejáveis.
me sinto assustada por não compreender porque eu, logo eu, fui escolhida pra ser dona de um sentimento tão poderoso, intenso e inexplicável como esse.
é mais que amor.
não... não chega perto de "amor".
é uma necessidade visceral; eu quero, e preciso, e respiro, e vivo somente pra conseguir alcançar sua alma.
ah deus... é uma angústia, é cuspir sangue, é o suor doce e quente das suas costas, é sentir vontade de morrer e achar isso bom, é esquecer noções tediosas de tempo e espaço, é mergulhar num universo de novos sentidos.
é pele, é corpo, é tato.
e mais que isso.
é sorrir descontroladamente, é sentir toda a razão evaporar por todos os poros, junto com os gemidos abafados pelo travesseiro.
e mais que isso.
é ter cada centímetro do corpo, da alma e da mente tomados por uma sensação completamente insuportável, insustentável, irreversível e irresistível.
e eu realmente não suporto.
por isso grito, imploro, ao tempo um pouco mais, só um pouquinho mais, da tua presença, das tuas mãos, da tua língua, imploro por cada partícula desse seu ser que me intriga, e me enlouquece, e me completa.
e é meu corpo que pede, e meu estômago se comprime, e eu sinto febre, e aí percebo que essa provavelmente é a melhor sensação que já senti ou vou sentir durante a vida toda.
e então eu começo a achar a palavra "amor" boba, pequena, infantil e fraca demais pra descrever o que sinto quando me perco nos seus labirintos.
eu tento achar palavras.
procuro, peço, mas não existem palavras pra descrever.
é um turbilhão de imagens, e sons, e cheiros, e gostos.
e enquanto eu tento dar forma a tudo isso e pôr no papel, meu coração bate no ritmo terrivelmente calmo e dolorido que o timbre da sua voz ensinou pra ele.
imagens, imagens...
eu peço palavras mas só consigo pensar em imagens.
seqüências de imagens intransmitíveis para o papel.
seu cheiro grudado na minha carne.
teu cigarro criando cânceres irreverssíveis no meu pulmão.
teus dentes marcando território na minha pele.
tua língua procurando caminhos pra arrancar sons de mim.
música, sempre música e imagens.
um vinil dos Stones, cheiro de incenso, fumaça de cigarro.
e você me mostrando o quanto as coisas bonitas são simples.
eu conhecendo partes de mim que achava que não existissem.
você me emprestando sua razão e sua calma pra substituir minha insegurança.
eu percorrendo distâncias gigantes pra encontar você.
é... (pausa pra suspiro, e recuperar o ritmo normal de respiração.)
eu viveria das suas sombras pra sempre.
mas você me quer viva, você me quer sorriso, você me quer luz.
e eu te quero sempre.
incondicionalmente.
e devagar contamos segredos, desvendamos grandes mistérios, aprendemos novas sensações.
e essa vai ser a história mais bonita que vou escrever.
porque, independente do final, você e esse seu olhar perdido são os meus personagens principais... (e eu sei que a felicidade é isso, enquanto fecho os olhos e sinto seu corpo fazer o meu gritar.)
mas aí alguma coisa acontece, e minha alma começa a se soltar de mim, e ir em direção a você, entrar nesse seu mundo sujo e perfeito que eu tanto quero, tanto quero.
e eu grito mais ainda. chamando, chamando minha alma de volta, ao mesmo tempo querendo que ela vá. mas eu não posso. não ainda. eu preciso dela... pelo menos até o dia em que todas as chaves forem minhas, e eu puder chamar seu mundo sujo e perfeito de casa.

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