terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Lips Like Sugar

ou Born to be in Love.


ele pergunta se ela tem certeza.
mas sabe que nunca se pode ter certeza nessas horas.
estragaria tudo.
ela diz alguma dessas coisas engraçadas que se diz quando não se sabe o que responder.
ele ri, mas não com os olhos.
os olhos estão ocupados demais, cravados naqueles lábios, que ela morde com nervosismo.
os dois se olham demais, preocupados em eternizar aquele momento na memória, antes que ele acabe.
lábios.
o que tanto querem, aquele velho canibalismo de amantes, se entregar um ao outro com toda ferocidade guardada, percorrerem-se com línguas, e dentes, e mãos, e alma.
mastigar tudo que há pra mastigar, experimentar todos os gostos que se desprendem do corpo do outro, gozar com todos os sentidos, gemer todos os gemidos que existem sob a face da Terra.
mas calma.
por enquanto eles estão ocupados, se olhando. se apaixonando.
ela jura amor eterno com o olhar, toda vez que ele fica sem reação, porque ele tem aquele jeito de pôr a língua entre os dentes e sorrir.
ela quer tanto conhecer o mundo dele, que pra ela parece tão diferente e distante, mas ela não se importa. ela seguiria ele até o infinito. contanto que sejam só eles dois.
ele sente um calor que queima tudo por dentro toda vez que ela pega um cigarro, daquele jeito só dela de puxar com a boca e se atrapalhar com os fósforos.
ele tem vontade de levá-la pra morar com ele e ensinar devagarzinho a arte de pertencer a outra pessoa, porque ela sempre recusa, com aquele olhar orgulhoso e um tanto ofendido, quando ele oferece ajuda pra acender.
um se embebeda da presença e dos defeitos do outro.
eles querem casar, e viver desses detalhes pra sempre.
mas os dois tem sombras no olhar, medo na alma e certeza de que nada disso dura muito.
então só se olham, um reconhecendo no outro os própios erros e medos.
um procurando no outro abrigo. pelo menos por essa noite.
e eles já se pertencem, mais do que vão chegar a perceber.
porque estão ocupados demais tentando fazer com que essa noite dure pra sempre.
mas nada dura, nada dura.

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