terça-feira, 28 de julho de 2009

Forme
palavras
sem
sentido
e
algum
sentido
será
formado
por
quem
não
sabe
que
as
palavras
sem
sentido
às
vezes
são

palavras
e
os
sentidos
estão
em
quem
as
lê.

Forme
sentimentos
com
palavras
e
note
que
as
palavras
às
vezes
não
conseguem
representar
seus
reais
sentimentos
sentidos.

Sinta
os
sentimentos
sem
sentido
e
forme
palavras
para
entregar
a
quem
te
faz
sentir
o
sentido
do
sentimento
que
a
palavra
oferece.

Palavras
sem
sentido

serão
palavras
e
nada
mais
quando
quem
as
escreve
não
estiver
sentindo.

Então
porque
buscar
sentidos
quando
o
sentido
está
no
seu
coração?

Sinta-se
e
será
capaz
de
sentir
o mundo
sem
palavras.

Onde
o
silêncio
representará
tudo
que
não
pode
ser
escrito
nem
ditado
nem
falado.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Que é que eu sei de amor?

eu sei que é unanimidade hoje em dia dizer: eu tomo meu café preto e amargo, puro e sem açúcar.
unanimidade entre pretensos artistas neuróticos. ou só neuróticos, porque que porra é ser artista, eu me pergunto.
mas sabe. a vida de preta e amarga já tem demais.
- papo de bar.
eu sei. mas assim mesmo: meu café é entupido de açúcar. fica depois aquela crosta marrom no fundo da caneca, você passa o dedo e lambe.
mas só faço isso hoje, ontem o açúcar que eu lambia vinha da sua pele.
- não começa com isso.
mas é que eu não consigo.
te liguei à noite, sei que isso me era proibido nas regras não-escritas porém supra-conhecidas do orgulho, mas olha:
que é que eu sei de amor?
é tudo tão novo e tão velho.
não sei nada.
e olha que eu leio pra caralho, sabe?
- eu sei.
tantas vezes deixei você esperando, enquanto terminava só mais um capítulo.
será que foi isso?
mas eu trocaria, sabe.
devolvo meu bukowski em troca da sua língua na minha de novo: pode?
- claro que não pode.
assim não vale, não funciona.
e pra que porra alguém vai querer um bukowski?
mas olha que merda de injustiça essa:
quer dizer que não se pode arrepender e consertar.
- como você conserta algo se não sabe onde quebrou?
tudo é uma questão de manter
(a mente aberta, a espinha ereta e o coração tranquilo)
opa. isso era outra coisa.
oficialmente vou parar com a maconha.
e oficialmente vou parar de você.
é um vício fodido esse, sabe.
quase uma auto-mutilação: arrancar você de mim.
- peraí, isso é clichê.
cansei de arranjar culpados em tudo,
a culpa é do mordomo,
me assassinaram com o castiçal na sala de música
ou eu assassinei?
fomos assassinados, meu bem,
e algo me diz que mancha de sangue no tapete é foda de tirar.
mas eu ainda espero, sabe?
- eu sei.
e olha:
que é que eu sei de amor?
é tudo tão novo e tão velho.
quero só fingir que não há sangue nem café amargo pelo mundo.
só mais um capítulo ou dois de nós. pode?
olha só pra mim.
mas olha só que merda.
tudo isso é por você, sabe?
sabe nada.
você não sabe é de porra nenhuma.

IV

insisto
agarro o imprevisto
invisto
na beleza do não-dito
evito
a certeza do finito.


insisto
nas cores do imprevisto
evito a certeza
nada é finito.


insisto
contra a correnteza
as marés
não vão me dominar
a lua
serve só
pra iluminar.

quem manda
nessa porra
sou
eu.

III

o que importam
minhas desproporções
os desejos e as ilusões
de que matéria são feitas as perguntas

de que importam
as perguntas
e as múltiplas respostas
perdidas no tempo

perguntas e respostas
são como vento
posso senti-las
por um momento
- ou dois
mas não posso segurá-las
com minhas mãos
humanas e falhas
(porém as únicas que possuo,
e por elas sou grata)

de que importam
as mãos, as falhas e a gratidão
me pergunto
enquanto meus olhos
- também humanos e falhos
tentam abarcar o mar
tentam descobrir onde ele termina,
se é que termina,
apesar da desimportância da pergunta,
apesar da miopia.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

II

dentro de mim é névoa
escura, úmida, densa e cega
dentro de mim é nada
cinza pesado negro mistério
fora de mim é o mundo
dentro de mim universo
no vazio enxergo
tateando meus invernos partidos no chão
dentro de mim é chão
sem nenhum teto
dentro de mim é chuva
não alaga nem cessa
dentro de mim é gotejar sem fim
dentro de mim é tortura
milenar e eficaz
dentro de mim
não sou capaz
de ser
senão névoa
escura, úmida, densa e cega.
não queria machucar-te, queria dar-te um beijo e um mar sem sal.

domingo, 5 de julho de 2009

Talvez algum dia as pessoas entendam que Deus não está no céu, mas dentro de cada um de nós.
Talvez algum dia possamos viver nossas diferenças em harmonia, porque ninguém é igual a ninguém.
Talvez a ciência consiga enxergar que nem tudo tem uma explicação racional, que algumas coisas simplesmente acontecem, que o universo é indiferente ao que pensamos a respeito dele.
Talvez possamos perceber que dentro de cada cabeça pensante existe um mundo fabuloso repleto de infinitas possibilidades e que somos nós quem decidimos como torná-lo útil e como usufruir de seus super poderes.
Talvez possa aceitar que existem realidades desconhecidas e que nem tudo que consideramos mentira realmente é, que nem toda verdade consegue ser absoluta.
Talvez possamos nos unir por amor e não por medo ou obrigação.
Talvez relute em aceitar que tudo que acontece em sua vida seja um mero reflexo de suas atitudes.
Talvez entenda que existe uma grande diferença entre olhar para o mundo e VER o mundo.
Talvez consiga aceitar que existe, sem precisar saber o
porque.
Tente considerar que algumas pessoas estão tão apegadas ao sofrimento que enxergam uma salvação em qualquer palavra de amor.
Que qualquer palavra de amor pode ajudar alguém que está em desespero desde que contenha o sentimento sincero.
Que nossos olhos não conseguem decodificar todas as mensagens existentes na natureza.
Que seguir sua intuição muitas vezes é mais eficiente
do que mover-se pela razão.
Que não temos certeza absoluta de como as pessoas nos enxergam, mas que podemos encontrar satisfação em nós mesmos, desde que permitamos ser o que nos coloque em contato com nossa natureza plena, sem culpa nem sofrimento, buscando sempre aceitar a felicidade.
Todos temos escuridão e luz, som e silêncio, paz e conflitos, harmonia e desordem, sabendo dosar esses elementos, encontrando conforto quando a solidão se faz presente.
E desatando os nós que nos aprisionam a certos padrões de repetição, talvez possamos ter mais sabedoria para discutirmos o que nos incomoda nos outros.
Talvez tudo seja uma grande ilusão.
Talvez não.
O que pode ser dado como definitivo está fadado a se tornar
obsoleto.
A vida é a vida e ninguém tem certeza de nada.
Por isso talvez possamos viver nossas vidas e aceitar
que existem muitas formas de se fazer isso.
Cada um escolhe a sua.