quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Vou começar uma revolução da minha cama


quem dirá o que já foi escrito?
pra você tudo é novo
vem ver a vida em preto e branco
veja o fundo do abismo
vem viver a vida do lado de fora

vou te mostrar enquanto é tempo
não é tarde demais
ainda estamos vivos
e sem você nada faz sentido.

eu nunca quis magoar ninguém
mas o tempo esqueceu de lembrar
nós fomos feitos um pro outro
e isso, nem deus pode mudar

vem ver a vida em preto e branco
veja o fundo dos meus olhos
vem viver a vida do lado de fora
vou te mostrar enquanto é tempo
não é tarde demais.
vamos fazer um filho
e em nove meses, reconstruir o mundo

vem viver a vida do lado de fora.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Muito pra dizer, nada pra dizer - I.

reflexões abstratas e egoístas (?) sobre quatro dias que podiam ter sido minha vida toda.



já não respiro fora de ti.

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fico com medo. mas o coração bate.
o amor inexplicável faz o coração bater mais depressa.
a garantia única é que eu nasci. tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade.


*clarice lispector*




o processo

- que é que eu faço? não estou aguentando viver. a vida é tão curta, e eu não estou aguentando viver.
- não sei. eu sinto o mesmo. , mas há coisas, há muitas coisas. há um ponto em que o desespero é uma luz, e um amor.
- e depois?
- depois vem a natureza.
- você está chamando a morte de natureza?
- não. estou chamando a natureza de natureza.
- será que todas as vidas foram isso?
- acho que sim.


*clarice lispector*




saudade

saudade é um pouco como fome. só passa quando se come a presença. mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

*clarice lispector*



uma revolta:

quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.



*Clarice Lispector*


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quando sinto as palavras querendo sair,
querendo sair, e é uma explosão tão grande
que em próprias palavras não posso exprimir,
prefiro deixar dizerem por mim.
eles que sabem, eles que foram escritores mesmo.
não sei o que faria sem eles, meus livros, meus melhores amigos.
porque parece que alguns escritores leram minha alma.
isso é coisa de doido, eu sei.
mas é um dos sentimentos mais reconfortantes do mundo,
esse de você se sentir incapaz de expressar algo,
e descobrir que alguém já sentiu e já expressou.
lindo, lindo.


e não importa o quanto eu escreva pra você,
o sentimento nunca se cansa de ser escrito,
o sentimento nunca se cansa.
as palavras ecoam, eternas, infinitas,
e eu estou presa, incapacitada
de fazer algo além de me angustiar,
me desesperar e querer exprimir isso tudo,
e então as palavras escorrem pelos meus olhos,
meus poros, meus dedos.
e eu não sou nada, eu sou sua,
eu, enfeitiçada.
amaldiçoada, completa, preenchida,
e tudo é tão imperfeito e dolorido que é bom.
paradoxal e dolorido.
colorido.


um cemitério, de madrugada.
por ele andam três mortos vivos.
e assim se descobre o que acontece
quando dois auto-destrutivos
se amam e se querem
mais do que se pode suportar
com esse corpo, essa vida, essa dimensão.
como disseram, "estrelas cadentes".
e eu digo, de novo, não me importo,
não me importo, nãomeimportomesmo.



eu respiro seu desejo.
daqui a pouco o dia vai querer raiar.
e então, faremos o quê?
eu, como sempre, vou pagar pra ver.



acho que pouca gente descobre, realmente, o que é o amor. não tem nada haver com tudo que lemos, nem com as músicas que ouvimos apaixonados, nem com coraçãozinhos vermelhos flechados.
amor tem sim haver é com morte.
drummond estava errado, amor não é primo da morte, amor é irmão siamês da morte. mas quem sou eu pra dizer? eu só sei sentir. e sinto, com todos os orgãos, pele, lágrimas, alma, tudo. sinto que amar, amar de verdade, amar loucamente, é tão insuportável e intenso, que não resta outra opção ao corpo do que morrer. morrer bem doído e delicioso, morrer dentro do outro, não ser nada pra ser tudo no outro. simplesmente porque o coitado do corpo não foi feito pra suportar tal sentimento, não foi. e depois dizem que deus existe. se ele existe, é extremamente egoísta, porque nos fez com corpos e mentes incapazes de amar. mas eu tento, tento, me queimo toda, morro todo dia. e vale a pena, claro que vale. morrer de amor. não, não é um lirismo imbecil, quem me dera que fosse. eu estou falando realmente de morte.




morrer de amor.
não, isso não é lindo.
mas é a verdade.
minha deliciosa e deprimente verdade.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Corpo cheio de música

tanta coisa que eu quero
sei que não preciso.
e mais coisas ainda que [dizem]
eu preciso,
mas (não)³ quero.
e então, algo Nele vibra.
soa, brilha...
cor?
não... não é cor, é som.


corpo.cheio.de.música.


Ele.
que eu quero e eu preciso.
como se pela primeira vez em [muito] tempo
eu pudesse simplesmente escolher o caminho claro
porque eu quero.
fazer o certo por escolha.
e por desejo. [dele]
sensação nova.
fugi disso tanto tempo.
e é incrivelmente... bom....
meu desejo de ter desejo
é amor?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Melhor sensação do mundo

hoje o tempo parou e eu descobri que posso ser feliz com pouco.
você sorrindo assim... olhando nos meus olhos, tocando pra mim.
hoje o tempo parou e nós podíamos ter (ser) tudo.
mas você tem medo. e se esconde de tudo que eu tenho pra te dar.
mas não importa, eu sei que nada vai mudar.
então pra quê tentar fugir da dor?
você me diz que toda história tem fim. mas pra mim essa ainda nem começou.
hoje o tempo parou e eu descobri que sou completamente sua.
mas você tem medo. e se esconde de tudo que queria me dar.
mas não importa, eu sei que nada vai mudar.
então pra que insistir nesse sonho?
e se importasse?
e se tentássemos mudar,
e nunca mais querer fugir de nada?
e se importasse?
lá fora nada faz sentido.
deixa eu procurar abrigo nos teus sonhos.



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boba, boba, boba.
e essa é a melhor sensação do mundo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Lips Like Sugar

ou Born to be in Love.


ele pergunta se ela tem certeza.
mas sabe que nunca se pode ter certeza nessas horas.
estragaria tudo.
ela diz alguma dessas coisas engraçadas que se diz quando não se sabe o que responder.
ele ri, mas não com os olhos.
os olhos estão ocupados demais, cravados naqueles lábios, que ela morde com nervosismo.
os dois se olham demais, preocupados em eternizar aquele momento na memória, antes que ele acabe.
lábios.
o que tanto querem, aquele velho canibalismo de amantes, se entregar um ao outro com toda ferocidade guardada, percorrerem-se com línguas, e dentes, e mãos, e alma.
mastigar tudo que há pra mastigar, experimentar todos os gostos que se desprendem do corpo do outro, gozar com todos os sentidos, gemer todos os gemidos que existem sob a face da Terra.
mas calma.
por enquanto eles estão ocupados, se olhando. se apaixonando.
ela jura amor eterno com o olhar, toda vez que ele fica sem reação, porque ele tem aquele jeito de pôr a língua entre os dentes e sorrir.
ela quer tanto conhecer o mundo dele, que pra ela parece tão diferente e distante, mas ela não se importa. ela seguiria ele até o infinito. contanto que sejam só eles dois.
ele sente um calor que queima tudo por dentro toda vez que ela pega um cigarro, daquele jeito só dela de puxar com a boca e se atrapalhar com os fósforos.
ele tem vontade de levá-la pra morar com ele e ensinar devagarzinho a arte de pertencer a outra pessoa, porque ela sempre recusa, com aquele olhar orgulhoso e um tanto ofendido, quando ele oferece ajuda pra acender.
um se embebeda da presença e dos defeitos do outro.
eles querem casar, e viver desses detalhes pra sempre.
mas os dois tem sombras no olhar, medo na alma e certeza de que nada disso dura muito.
então só se olham, um reconhecendo no outro os própios erros e medos.
um procurando no outro abrigo. pelo menos por essa noite.
e eles já se pertencem, mais do que vão chegar a perceber.
porque estão ocupados demais tentando fazer com que essa noite dure pra sempre.
mas nada dura, nada dura.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Janis Joplin



Ela é minha personificação da Deusa.
Porque não existe outra como Ela, nem nunca existirá.
Porque eu seria outra sem Ela.
Janis é Sagrada.

Da simbiose e algumas outras coisas

você tem cheiro das coisas que não conheço e que tanto quero ver. você tem gosto de futuro, de mar, de bala de anis. seu sorriso me causa rachaduras internas que jamais poderão ser remendadas. efeito devastador eterno. quando você partir, quebrarei em mil caquinhos, de cada caquinho vai nascer um passarinho, e eles vão propagar meu sofrimento pelo eco do infinito. mas antes disso, vais me fazer feliz.
sua cor é de dia de sol forte, cor de quando o chocolate derrete nos dedos e a gente lambe sem se importar de se sujar. você tem esse olhar de cachorrinho perdido. mas sabe fazer olhar de menino vadio quando quer que eu me sinta mulher. sua mão passearia pelo meu corpo como se fosse uma jóia, ou uma arca cheia de coisas preciosas, se você desse valor a esse tipo de coisa sem sentido. mas não dá, por isso és perfeito também. e por isso me pega como uma criança e seu brinquedo favorito. e por isso me prova como se prova algum novo sabor de sorvete, me bebe como se bebe aquela última gotinha de Coca do fim, me mastiga como aquele monstro do filme mastigava a mocinha. tem esse ar de menino sem teto, como quem não tem pra onde ir. pois eu te ofereço aqui dentro do meu seio, sua morada. e aqui na minha língua, sua água. e no meu corpo, alimento. às vezes. outras vezes, eu que te pedirei abrigo sobre a rede que me teces com tuas palavras doces, beberei suas lágrimas, comerei teus cabelos. e nos dias de cansaço quando mal quisermos falar de tanto amor, eu só peço pra deitar do teu lado e decorar cada traço dessa figura desenhada no seu braço. quer viver assim? viver a dois, nessa simbiose canibal; te dou minha carne pra se alimentar e tomo teu espírito como meu elixir da vida, da cura, da benção, de tudo, de tudo. pulsemos juntos.
vai chegar o dia que espalhará armadilhas em volta da tua casa, para recolher meus pássaros-caquinhos que não te deixam dormir. sentirá saudade do teu alimento. a melancolia te vencerá. e quando isso acontecer, se afoga no mar... e vem viver nossa eternidade nas estrelas.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Pétalas de vidro

e de repente uma conversa se transforma num encontro de almas, que por algum motivo inexplicável andaram perdidas e separadas por tanto tempo.
e um olhar passa a significar um convite, um pedido, uma jura de que tudo aquilo é mais, muito mais que físico.
existe o medo, o arrependimento.
as conseqüências da escolha errada.
mas também existe aquela sensação de que tudo vai ficar bem, e de que não existe certo e errado,
porque aquele mundo é composto apenas dele e dela.
vamos voltar pro mundo real?
não, não, nunca.
ele tem medo de voltar e descobrir que vai perder ela pro mundo.
ela tem medo de ficar e descobrir que vai perder o mundo por ele.
ou não.
mas o que importa?
eles tiveram aquela tarde, aquela conversa, aquela troca de sonhos,
aqueles segundos em que suas vidas se cruzaram.
e por um instante foi perfeito.
e isso basta.

domingo, 6 de janeiro de 2008


ela se abaixa e pega do chão pecinha por pecinha da redoma de vidro.
- foi sem querer, papai, eu juro que foi.
e tinha sido mesmo. sem pensar.
um segundo em que se para de pensar é um segundo em que o coração toma conta.
e o corpo faz o que a alma manda.
a alma da rosa a mandou derrubar sua redoma. espatifadas, agora.
a redoma, a rosa.
- eu posso colar, papai, eu juro que posso.
ela não pode. mas tenta.
com cuidado, cola e carinho, junta os pedaços do quebra-cabeça de vidro que um dia foi seu lar.
um pouco de cuspe, talvez, resolva.
mas não. esse tipo de vidro, esse
forjado tão cuidadosamente não pode ser colado.
- super bonder, papai?
a rosa chora. perde pétalas.
não entende que as decisões da alma são irreversíveis.
a redoma não pode ser consertada. nunca.
mas se ela parar de chorar, vai perceber.
que a mesa em que a redoma estava apoiada
continua lá.
firme.
sempre.
madeira, não vidro.
madeira.
sempre.



- eu posso voltar sempre que quiser, papai?





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mas a rosa nem fica tão triste assim.
porque da janela do quarto escuta a voz dele,
chamando de longe.





...





e são cheiros, e sons, e toques.
como jamais vistos na história do mundo.
sentir sem pensar.
linhas tecidas de olhares e línguas.
corpo como abrigo.
alma, alimento.
certezas sagradas.
e ela gosta de se sentir insegura.
porque ele a põe entre os braços e traz de volta a segurança;
e ela gosta de sentir a falta.
essa ausência que sente nas entranhas.
dor e alívio,
porque as horas passam,
ainda bem que as horas passam.
e de repente já podem se ver de novo.
novas cores,gostos novos.
novas sensações,
e tudo de novo.
e de uma outra história, num outro livro, de outra estante,
o peter pan acha o caminho até a rosa.
a salva da redoma quebrada.
nunca mais pisam em livro algum.
por isso a história deles não termina.
e é só isso.

A iluminação que vem pelo caos

São momentos que poderiam ser chamados de mágicos, se eu ainda acreditasse nisso. Sabe aquela velha teoria política-cósmica que a gente costumava discutir, bêbados em um bar qualquer? A iluminação que vem pelo caos.
Tantos anos de erros, absurdos e falta de qualquer senso lógico que seja; tudo justificado porque Morrison, logo ele, nos disse em um sonho que a rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior. Então, that' s ok, boy. Vamos procurar a tal libertação interior. Eu acabei descobrindo que as coisas no mundo real são um pouco mais turvas do que nas músicas psicodélicas. Alice no país nas maravilhas é só uma metáfora, sabe? E além do mais, o gato nunca fez o favor de indicar porra de caminho algum; ele só disse que se eu andasse pra caralho ia chegar em algum lugar. É, isso eu sei, pelo menos. Cada um acaba achando, de alguma forma, uma plaquinha no meio do caminho, indicando uma direção. Só que às vezes ela tá meio pichada, e torta, e tá de noite e você não consegue enxergar muito bem o que é que tá escrito nela. Mas você sabe se virar, não sabe? E de repente tem um abismo que não deu pra ver no escuro, e de repente descer rolando até lá em baixo não é muito legal. Eu resolvi ignorar as placas. Porque não tem muita diferença o caminho que você segue. Tem gente que nasceu pra tomar no cu, isso é um fato. E tem gente que por mais que se atire de cabeça no tal do abismo, vai se levantar sorrindo. Porque tem sorte. Acho que tô num meio termo; me atirar de cabeça no nada é quase uma especialidade. O problema é a parte de levantar sorrindo. Não sei muito bem o que eu quero dizer. É madrugada numa cidade fria, eu escolhi essa cidade fria pra mim, e algum dia ela vai ser minha. Mas não agora. Isso significa que o frio de hoje é bem pior. Que eu tô sozinha, e que isso geralmente me incomoda. E tem umas madrugadas estranhas, em que você precisa simplesmente confessar alguma coisa pra alguém. E escrever é confessar alguma coisa pra si mesmo. Pelo menos sempre foi assim pra mim. Só quero dizer que eu desisto das coisas com a mesma facilidade com que eu me interesso; que eu já joguei tudo fora dentro da minha cabeça, e recomecei do zero diversas vezes; que eu aperto o botão reset, e ele fica em um lugar de fácil acesso. E que isso tudo, como todos os seres viventes sabem lá no fundo, é só medo. .. de não conseguir, de perder. É mais fácil e cômodo desistir do jogo do que jogar e perder. Quando você desiste, é só colocar o óculos escuros, acender um cigarro, fazer carinha blasé, e dizer: "Eu nem queria mesmo". É. Eu nem queria mesmo. Nem queria me apaixonar de verdade e conhecer o que é esse tal de amor que aparece tanto nas músicas psicodélicas. Nem queria passar de ano, nem queria jogar na cara de todo mundo que eu posso fazer o que quero, nem queria ter aproveitado melhor todas as coisas que passaram por mim e eu deixei pra lá, com meu óculos, meu cigarro e minha carinha blasé. Nem queria mesmo. Essa é a pior sensação do mundo. Saber que talvez eu pudesse fazer tudo. Se eu tivesse coragem de ir até a borda e saber o que é que tem depois. Mas eu apertei reset, e pronto. Mas era sobre isso que eu tava falando antes. A tal da iluminação que vem do caos. O tal do momento mágico. Não, não foi nada que aconteceu hoje, não foi nada que eu tomei, nem nada que eu tenha visto. Foi um insight da minha cabeça. Hoje, no meio de tantos pensamentos sobre tudo que deu errado, sobre tudo que tá meio torto na minha vida, sobre tudo que eu não sou, não tenho, não posso, não consigo, não quero. Eu enxerguei algo tão simples e óbvio. Uma certeza que eu tava deixando se perder. E que hoje me voltou, num momento que poderia ser chamado de mágico, se eu ainda acreditasse nisso. E eu levei um soco no estômago. Eu tenho algo. Que me faz querer acordar, que me indica o caminho que eu quero, que me faz gostar de ser eu mesma. Eu tenho algo que me dá liberdade, e desculpa aí, Jim Morrison, mas não é "rebelião exterior". É algo tão clichê, tão estranho, difícil, pesado, imenso, intenso, insano, abstrato e concreto, algo tão confuso e psicodélico, extremo e delicado, é algo que não segue regras e que no fundo ninguém tem a comprovação científica de que exista. Eu tenho amor. Eu tenho ele. E nada vai me tirar isso, eu não vou me tirar isso. Dessa vez, dessa única vez que algo de verdade apareceu na minha existência, dessa única e frágil vez que eu não tenho medo, nem dúvida, nem nada que valha mais a pena do que olhar no fundo dos olhos dele e me reconhecer ali dentro, dessa vez eu não vou deixar nada me fazer desistir. O mundo todo pode tentar, eu mesma posso me auto sabotar, como sempre, mas dessa vez nínguem tira de mim o que eu tenho. Porque é de verdade, porque é só o que existe no meu mundo, porque eu renunciaria de qualquer coisa por isso. E porque eu não quero nunca mais me sentir sozinha desse jeito, numa madrugada estranha, nessa cidade fria. E com essa certeza que eu tenho eu não preciso mais das placas. Eu escolhi, eu tenho um caminho. E isso é a coisa mais perfeita que eu já senti, ter um caminho, e o caminho levar em direção dos olhos dele. Eu só queria que tudo fosse sempre sol, sempre colorido e fácil, tudo sempre um comercial da aveia quacker. Mentira. No fundo eu sempre soube que ia ser assim, porque não tem outro jeito. O mar é lindo, mas tem aquelas ondas lá no fundo. De qualquer forma, eu sou sempre sua, e isso é uma escolha, e esse é um caminho sem volta. E nesse caos todo que tá minha vida, nessa hora em que eu tô no meio de tantas escolhas que eu poderia fazer, nessa hora em que os fantasmas de tudo que eu não fiz e deveria ter feito voltam pra me encher o saco, eu consigo simplesmente me sentir feliz, me sentir segura, porque em algum lugar do universo eu tenho pra onde ir, porque agora meu caminho de casa me leva pra você. Não vou deixar nada, nada, nada, estragar isso. Nem que a gente seja muito burro, e faça tudo errado. Mil vezes. Eu desistiria de mim por você. Isso é errado, isso é abismo, isso é loucura, mas é amor. É tudo que eu sou, tudo que eu escolhi ser. E se você não puder enxergar isso, é porque alguma coisa tá errada. Então vou te fazer enxergar, de qualquer forma que seja. Paga pra ver.

Carinhos secretos

Acredito nos pequenos milagres, na sua língua em minha pele. Acredito em demônios pessoais e segredos sussurrados no escuro do quarto. A bênção de acordar, e sem ainda noção de tempo e espaço enlaçarmos nossas pernas num êxtase mútuo, e só então o dia começa. Acredito em problemas que viram motivos de riso. Acredito em pipoca e televisão. Carinhos secretos e planos-mirabolantes-de-dominar-o-mundo. Acredito no nosso mundo, na intimidade delicada de dividir o chuveiro numa manhã de atrasos, na firmeza das mãos dadas ao atravessar a rua. Acredito em limpar seus olhos de sono com dedos desajeitados. Acredito principalmente nelas, as manchas que ficam nos lençóis. Cumplicidade e madrugadas que duram milênios. Acredito nos pequenos milagres. Sentir seu cheiro marcado em minha pele e desejar que esse sonho de te ter seja eterno. Acredito em orgasmos múltiplos. Amém.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Das promessas e outras coisas estranhas

ela acordou com uma sensação estranha.
olhou pro lado, tudo escuro.
tateou no escuro esperando sentir o quente daquelas costas,
mas ele não estava ali.
levantou com um susto, cabelos ainda molhados e escorridos do banho anterior,
e olhou em volta.
seu coração diminuiu quinze compassos aproximadamente, quando ela avistou um pontinho laranja na escuridão.
ah, ali estava ele. sentado no chão, cigarro aceso, olhando ela dormir.
tornou a deitar, agora calma, mas sem sono novamente.
mas ele sabe o que ela quer, ele sempre sabe.
apaga o pontinho laranja no cinzeiro cheio, pega o violão e canta baixinho até ela dormir de novo.
ela diz que isso a faz sonhar com ele.
ele diz brincando que ela ronca.
ela diz séria que é mentira.
de manhã cedo, acordarão enroscados nas pernas um do outro. ela com a mão no coração dele, pra sentir as batidas, e ele com a mão emaranhada nos cachos dela, pra sentir o cheiro bom que desprende dali, e porque fez carinho nela até os dois dormirem.
de manhã cedo, acordarão com cara amassada de sono, daquele jeito terrível que o ser humano costuma acordar.
mas, por incrível que pareça, ele vai achá-la mais linda do que nunca,
e ela vai adorar o formato estranho que os cabelos dele despenteados adquirirem.
provavelmente vão se abraçar e dormir mais um pouco,
já que têm a eternidade do dia pra passarem juntos.
já que têm a eternidade do universo pra passarem juntos.
é, o amor tem dessas coisas estranhas.



o amor é uma coisa bem estranha.




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entre a dor e o amor,
existe um abismo
quase seguro.


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cínicas emoções me corroem.

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de tanto que as fiz e não cumpri,
nem eu mesma creio mais nas minhas promessas.
palavras jogadas em vão, ao vento,
deixam no céu da boca o gosto acre da impossibilidade.
acredito no nada que rodeia minha alma escura,
acredito na fome que sinto no meu corpo,
acredito nos pequenos prazeres imediatos e doloridos.
eis tudo que posso oferecer a mim mesma.


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"... não há palavras para explicar o que não há."

Parte mais sensível desta comédia romântica


gritos abafados pelo travesseiro, poesia barata, sangue, lágrimas, cinzas de cigarro, gosto de corda de violão nos dedos, fumaça, cheiros, sons, toques, vinho tinto, mãos, línguas, encaixes perfeitos, planos, cores, palavras, cabelos, explosões, ciúmes, sussurrar, gemer, pedir, paixão, suor, excessos, erros, risadas, olhos fechados, verdades, música, medos, vontades, perdoar, querer, prazer, carinho, necessidade, saudade, angústia, loucura, aperto na boca do estômago, cumplicidade. alma, corpo. de corpo e alma.


- mas é claro que eu te amo.

Crescer = cinema, sexo e jazz


aí acontece.
você acorda um dia, se olha no espelho, percebe.
crescer = cinema, sexo e jazz.
é, a gente cresce.
crescer é finalmente compreender uma verdade fundamental da vida: não, seus peitos não vão crescer mais que isso. mas é também perceber que nem importa mais.
crescer é aceitar que certas coisas em você, internas e externas, não podem ser mudadas. mas isso não te impede de continuar a ter crises de tpm por isso.
crescer é se tocar que teu pai não é bem aqueeele super-homem que você sempre acreditou que ele fosse. ele tem defeitos. é, ele é um homem. mas daí você também se toca que o ama do mesmo jeito, e até mais, porque ele também te ama, convivendo com seus defeitos há anos.
crescer é começar a ponderar que talvez, talvez, as coisas que sua mãe te grita devam ser encaradas como conselhos, não ordens. e que talvez ela não queira só castrar sua liberdade, talvez seja o jeito torto dela de cuidar de você.
crescer é ficar meio down num dia de tarde, porque percebeu que seus amigos de infância, afinal, talvez não sejam seus amigos pra sempre. deveria haver uma lei contra isso, mas as coisas mudam, as pessoas mudam, a terra gira. mas parte da sua tristeza é por saber que você mudou no ponto de vista deles, tanto quanto eles mudaram no seu.
crescer é admitir: "é, realmente, eu tenho responsabilidades".
claro que isso não significa admitir que você se importará com isso mais do que se importava antes.crescer é sentir na pele aquela frase insuportável que você passou a vida toda ouvindo: "seus atos têm consequências!".
é, realmente, eles têm. mas crescer é de repente descobrir que você não tem medo dessas tais "consequências". que venham, você estará esperando, de braços abertos e sem tremer a voz.
crescer é fingir que sabemos de tudo que precisamos pra viver. mas ainda bem que têm pessoas que percebem que é só fingimento, porque aí elas ficam por perto pra ajudar quando algo der errado. claro que a gente também finge que nem reparou que precisou de ajuda.
crescer é ter certeza de que ninguém no mundo tem nada de interessante pra dizer, ou pra acrescentar à você. mas mesmo assim, lá no fundo, continuamos esperando ansiosos por alguém que nos surpreenda.
crescer é entender que ponto G e orgasmo com penetração não são só mentiras de revistas femininas, mas que você precisa encontrar o carinha certo.
crescer é saber que o carinha certo é mais difícil de encontrar do que você esperava com 13 anos, mas que quando for Ele, não haverá a mínima sombra de dúvida. é instantâneo.
crescer é perceber que sexo não era aquilo que você fazia antes. sexo é quando você sente tesão pela mente do outro, pela alma do outro. aí então, os corpos podem se entender. (crescer é descobrir que a maioria dos clichês é mesmo verdade.)
crescer é reiterar seu conceito de que casamento e fidelidade são conceitos falidos de uma sociedade-católica-cristã-burguesa-capitalista-elitista. mas, pra seu total horror, "casar" não parece mais uma palavra tão feia assim, não quando você olha nos olhos dele. crescer é querer com todas as forças sair de casa! aí não querer mais. aí querer. aí não querer mais. aí, querer... aí não querer... aí ...
crescer é continuar não tendo a mínima idéia do que porra fazer da vida, mas pelo menos agora você pode ser arrogante e adquirir um ar blasé sobre isso, afinal, você cresceu.
crescer é ver que coisas feias como ódio, inveja, raiva, mesquinharia, egoísmo, não te fazem crescer espiritualmente e são ruins. mas, e daí??
crescer é poder legalmente frequentar um motel. finalmente! ah, mas peraí. você ainda não tem um carro.
crescer é continuar a querer encher a cara que nem bukowski. ou cheirar que nem chet baker. ou fumar maconha que nem bob marley. mas aí você percebe que seus motivos pra fazer isso já mudaram muito.
crescer é saber que são jorge não é vinho. que vinho bom é, hum... bom. mas você continua só tendo 3 reais no bolso.
crescer é gostar de cinema de verdade. (não, cinema de verdade não está em cartaz no cinema. pelo menos não frequentemente.).
crescer é achar que você só vai fazer o que quer. mas você já achava isso antes.crescer é legal; até você perceber que não cresceu nada. (talvez sua bunda sim. merda.)
crescer é descobrir cataclismicamente que um solo de sax é tão empolgante quanto um solo de guitarra.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Mundo sujo e perfeito


parece a única coisa certa a fazer.
fechar os olhos e esperar você dizer todas aquelas coisas que eu tenho medo de ouvir...
porque será que seu jeito suave de falar revela todas as minhas fraquezas instantaneamente?
e então mais um beijo...
e todos têm gosto de inferno.
esse meu inferno quente e doce em que eu escolhi morar desde que perdi meus olhos bem no fundo do castanho sujo dos seus.
e eu pedi por isso cada segundo da minha vida.
e é o intenso redemoinho das suas entranhas corroídas de desejo, dúvida e medo que eu escolho como abrigo.
e o único ar que pretendo respirar de agora em diante é esse ar rançoso e pesado do nosso quarto; cheio de fumaça, incenso, sexo, angústia, ansiedade, música e eternidade.
me sinto inundada pela poesia do teu corpo cheio de ângulos perfeitos. perfeitamente desejáveis.
me sinto assustada por não compreender porque eu, logo eu, fui escolhida pra ser dona de um sentimento tão poderoso, intenso e inexplicável como esse.
é mais que amor.
não... não chega perto de "amor".
é uma necessidade visceral; eu quero, e preciso, e respiro, e vivo somente pra conseguir alcançar sua alma.
ah deus... é uma angústia, é cuspir sangue, é o suor doce e quente das suas costas, é sentir vontade de morrer e achar isso bom, é esquecer noções tediosas de tempo e espaço, é mergulhar num universo de novos sentidos.
é pele, é corpo, é tato.
e mais que isso.
é sorrir descontroladamente, é sentir toda a razão evaporar por todos os poros, junto com os gemidos abafados pelo travesseiro.
e mais que isso.
é ter cada centímetro do corpo, da alma e da mente tomados por uma sensação completamente insuportável, insustentável, irreversível e irresistível.
e eu realmente não suporto.
por isso grito, imploro, ao tempo um pouco mais, só um pouquinho mais, da tua presença, das tuas mãos, da tua língua, imploro por cada partícula desse seu ser que me intriga, e me enlouquece, e me completa.
e é meu corpo que pede, e meu estômago se comprime, e eu sinto febre, e aí percebo que essa provavelmente é a melhor sensação que já senti ou vou sentir durante a vida toda.
e então eu começo a achar a palavra "amor" boba, pequena, infantil e fraca demais pra descrever o que sinto quando me perco nos seus labirintos.
eu tento achar palavras.
procuro, peço, mas não existem palavras pra descrever.
é um turbilhão de imagens, e sons, e cheiros, e gostos.
e enquanto eu tento dar forma a tudo isso e pôr no papel, meu coração bate no ritmo terrivelmente calmo e dolorido que o timbre da sua voz ensinou pra ele.
imagens, imagens...
eu peço palavras mas só consigo pensar em imagens.
seqüências de imagens intransmitíveis para o papel.
seu cheiro grudado na minha carne.
teu cigarro criando cânceres irreverssíveis no meu pulmão.
teus dentes marcando território na minha pele.
tua língua procurando caminhos pra arrancar sons de mim.
música, sempre música e imagens.
um vinil dos Stones, cheiro de incenso, fumaça de cigarro.
e você me mostrando o quanto as coisas bonitas são simples.
eu conhecendo partes de mim que achava que não existissem.
você me emprestando sua razão e sua calma pra substituir minha insegurança.
eu percorrendo distâncias gigantes pra encontar você.
é... (pausa pra suspiro, e recuperar o ritmo normal de respiração.)
eu viveria das suas sombras pra sempre.
mas você me quer viva, você me quer sorriso, você me quer luz.
e eu te quero sempre.
incondicionalmente.
e devagar contamos segredos, desvendamos grandes mistérios, aprendemos novas sensações.
e essa vai ser a história mais bonita que vou escrever.
porque, independente do final, você e esse seu olhar perdido são os meus personagens principais... (e eu sei que a felicidade é isso, enquanto fecho os olhos e sinto seu corpo fazer o meu gritar.)
mas aí alguma coisa acontece, e minha alma começa a se soltar de mim, e ir em direção a você, entrar nesse seu mundo sujo e perfeito que eu tanto quero, tanto quero.
e eu grito mais ainda. chamando, chamando minha alma de volta, ao mesmo tempo querendo que ela vá. mas eu não posso. não ainda. eu preciso dela... pelo menos até o dia em que todas as chaves forem minhas, e eu puder chamar seu mundo sujo e perfeito de casa.